Retalhos

"Entre o sono e o sonho, entre mim e o que em mim é quem eu me suponho, corre um rio sem fim."

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Sou um contentamento descontente

segunda-feira, outubro 30, 2006

Na tua janela


Trago um azul
Preso no meu olhar
Trazido do teu horizonte.
E dele trouxeste
Todas as cores
E rios de palavras,
E semeaste nas minhas mãos
O cheiro das estações.
Debruçada na tua janela,
Plantada no teu jardim
Tenho o tempo suspenso em mim.

domingo, outubro 29, 2006

Queria cantar teus olhos


Queria cantar
A luz
As cores
Todos os mundos
Sonhados
Imaginados
Que tuas pálpebras encerram.
Queria cantar
O estranho brilho
Que baila nos olhos
Que trovejam
Cospem fogo
Chovem.
Que emanam a calma
Que desarma
Quebra
Envolve.
Que me dizem
Para nada dizer
Porque os meus já o disseram.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Desfecho

Vagueava pelas ruas
Como se procurasse o sentido da vida
Entre as pedras que calcava.
Como se tivesse a certeza
De te encontrar também perdido e só.

Revejo-te agora num tempo esquecido
Num retrato amarelecido.
O que restará de nós,
Agora que te foste?

Onde quer que vá
Levarei sempre no meu corpo
O teu abraço.
E levo dos teus lábios
Aquela esperança sedenta
Que não me chegará...

Porque o sono negro, implacável
Estendeu-te a mão
E mergulhaste.

E eu recostada em ti
Embalar-me-ei por suaves momentos,
Pensando sempre que te vou encontrar ainda
Onde te deixei.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Conto de Negro


Todos os sábados à noite ele entrava naquele bar. Um bar sombrio e pequeno. Apenas com luz de velas , cheiro a naftalina e paredes azul-bebé.
Chegava sempre à hora de abrir, quando ainda ninguém lá estava. Ficava sozinho perdido nos seus pensamentos.
Nada iria mudar. Sentiria sempre aquele buraco no peito,um grande vazio no fundo do estômago. Não sabia exactamente se a alma se localizava em alguma parte do corpo, mas se assim fosse ela deveria estar ali,no fundo do estômago...
Ficava ali no escuro, a pensar. Em tanta coisa. Sem perceber essa confusão na sua cabeça. Ás vezes, quando sozinho no escuro do seu quarto tentava abrir os olhos, apercebia-se de que já estavam abertos...Estavam sempre. Quase não dormia.
Não esperava nada, mas desejava inconscientemente que acontecesse algo que o surpreendesse. Alguma coisa que o fizesse acreditar. Fosse no que fosse.
A verdade é que nada o despertava. Para ele era sempre noite. E, de dia, se fosse possível, preferia andar com os olhos fechados e só à noite os abrir no escuro.
As pessoas desiludiam-no. As atitudes enojavam-no. O mundo que o acolhia não parecia ser o seu. Mas era. E ele acolhia-o exactamente para o sentir tal como ele era.
Depois o bar ia-se enchendo, pouco a pouco. Tal como ele, da sua vida.
Ele costumava dizer que aquela gente era como ele. Por isso ia para ali. Mas ele não era como aquela gente de negro.
Porque aquelas vestes negras eram só um estilo. Porque o negro que ele trazia era apenas no seu coração. Essa coisa que teimava em bater dentro de si.
Nunca falava com ninguém. Não conhecia ninguém no bar sombrio. Nem queria. Queria apenas se sentir entre eles. Sentir que existia. Que fazia parte de algo.
Ironicamente, não fazia parte de nada ali. Era só ele consigo.
Bebia sempre. Uma bebida atrás da outra. Tanto, que a partir de uma determinada quantidade daquela mistura,começava a odiar o azul-bebé das paredes. Enjoava-lhe o cheiro da naftalina. E aquela gente de negro tornava-se falsa. Estúpida. Disforme. Todo aquele negro sem sentido.”Não pertenço aqui!”dizia em voz alta. E todos o olhavam de soslaio.
Entao saía. Saía com a certeza que era só ele. Que era só dele aquele luto.
A fome que sentia não era cessada com alimento.Não era sanada com nada. Tentava perceber. E a sede? A sede que sentia não era apagada com álcool.
Essa fome e essa sede vinham-lhe da alma. Lá do fundo...Sentia no sangue, atravessava-lhe as veias. Era como uma explosão dentro de si, que não passava.
Fome do infinito. Sede de algo. Nada era palpável. E no silêncio da rua sentia apenas isso.
Pensava:”Não volto aqui.Não volto.” Mas sabia que voltaria. Só para sentir que existia aos sábados á noite.
Por uns segundos, ficou parado a olhar a noite. A olhar a lua. Depois prosseguiu. Caminhou sem rumo, embora os seus passos o levassem sempre ao mesmo quarto, á mesma cama e aos mesmos braços de sempre. Os braços que o protegiam do mundo, onde conseguia sonhar com o infinito...
Foi quando se apercebeu. Era capaz de amar. Esses braços.
Agora tinha a certeza.Tudo à sua volta, nas ruas da cidade, se tornava disforme, como se se diluisse. Nada daquilo precisava existir. Para quê?
Agora sabia. Amava. Acontecia, naquele momento, esse "algo" que ele desejava que o surpreendesse.
O sofrimento que tudo lhe causava não tinha sentido.O amor inundava-o e ele submergia nele. Deixava-se ir...cada vez mais fundo, cada vez mais fundo. Nada o podia atingir. Nada o podia tocar.
Sabia que sempre se iria conseguir encontrar logo que entrasse naqueles braços, naquela cama, naquele quarto. Para onde os seus passos o levavam.

segunda-feira, outubro 16, 2006

Atira-me um suspiro

foto by me

Atira-me um suspiro,
Nem que seja um já usado.
E prende-me ao teu cais,
Com a segurança da tua amarra
Antes de partires.
Eu recolher-me-ei nas tuas vagas.

terça-feira, outubro 10, 2006

O Fim



Ecos alucinantes ,
E o céu vai perdendo a cor...
Uma borboleta de asas incandescentes
Move-se sem saída,
Bate as suas asas com dor.
Viaja na loucura.
Vai girando em redor do nada ,
Em constante procura.
O fim é a única verdade que dura.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Amo-te


Amo-te.
Não sei como, quando ou onde.
Amo-te.
Sem orgulho ou complexidade.
Sei que te amo
quando minha mão pousa no teu peito
e eu respiro.
Sei que te amo
quando cerras os olhos
e eu adormeço.
Sei que te amo quando de cada vez que sorris
eu renasço.
Sei que te amo onde existires,
seja como fores.
Amo-te.
Não sei como, quando ou onde.
Amo-te como sei.

quarta-feira, outubro 04, 2006


O que é mais insensato?
Uma criança ter medo do escuro ou um homem ter medo da luz?